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sábado, 30 de novembro de 2013

vivemos
a era do plástico
em vez da do bronze
ou do ouro
ou do ferro
o cachorro
morde a bola de plástico
o estômago
da baleia cheio de plástico
sonhei
uma vez que comia
uma salada de frascos de plástico
mas quando pressinto
lipodistrofia
na nádega magra
na cadeira dura
acho que vivemos
ainda
a era do nervo
a era do osso

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

tem uma cárie
incomodada no meio
dos dedos dos dentes
se aproximam do passado
quando chega dói

a língua ficou
perdida lá atrás
pouco salubre
mas gostoso
não volta mais

de ossos plantados
não nasce polpa
e nos expostos
o suco seca

entre as coisas que não acompanham
o corpo soma

sábado, 19 de outubro de 2013

tem pressa de dizer que
sim nem que não pelo menos
o que importa
é ser feliz igual o cachorro
cava no taco da sala
um buraco imaginário seu
instinto de cachorro lhe diz
nas células nos ossos enterrar
independe do chão
felizmente
você não vai escapar

domingo, 25 de agosto de 2013

todos os outros seres vivos

a mesa
conversa com a árvore
que ela foi
na minha cabeça
e a terra
que fez os tijolos
da parede logo à frente
conversa com as mãos
dos pedreiros que já morreram
e todos os outros seres vivos
que voltaram a ela
hoje emparedados
e servindo de suporte
a quem tem parede
e mesa
vivo

.

tanto quanto o cachorro que late
a quem demos um nome
a gente olha o que tem na pata
temendo que seja um tumor
que mate o nosso nome

tanto quanto o mosquito
que eu mato por reflexo
antes do dedo assassino
na tela ele estava vivo

tanto quanto as estatísticas
de todos os outros seres vivos
e os primatas que mês passado descobriram
na colômbia

classificamos os olhos
estabelecemos parentesco
entre os cachorros, os macacos,
os mosquitos e nós mesmos

.

tanto quanto a mãe
que recebeu muitas designações
nos últimos milênios de impasse
e segue existindo como se isso
não importasse

tanto quanto o pai
igual igual igual
só que ele já morreu
volte à estrofe nº 1

quinta-feira, 27 de junho de 2013

ainda bem que meu corpo não é eu

o colchão quebrado pelo sono
se embanana em dedos deus me livre
as pernas nessa insônia igual
à minha, caminhariam a noite
inteira em círculos

os outros
pedaços do corpo também podiam
passar em claro agito no cansaço:

uma unha choraminga solidão
os testículos se pensando tristes
nariz ansioso guardando
o que cheirar no dia seguinte

ainda bem que meu corpo
não atende pelo nome
a letra acorda meu nome pra sempre
logo logo meu corpo some

ainda bem que minha noite
é no mínimo do meridiano
meu corpo é só mais um entre muitos
meu nome é quem conta os anos


sábado, 22 de junho de 2013

O melhor amigo de Deus

1

igual cachorro
que anda sem dono
o dono logo atrás
atropelaram Deus
corri de susto
e agora
não sei voltar pra casa

2

rasgo
os sacos de restos da feira
durmo no chão ao relento
o treinador me ensina: cachorro
é sobrevivência

3

encontro a porta amiga
fechada as chaves de Deus em seu bolso
no Instituto Médico Legal, logo sepulto
espero à porta
pra sempre
até que um passante com dó
me adote

terça-feira, 7 de maio de 2013

tudo por fazer

tomar
os dias de canudinho, um ônibus
pra ontem, cada parada muda o cenário,
abrir a cidade uma trilha na foice
tatuar todo o meu braço ou morrer
sem precisar, amor a fórceps,
conta no banco

deixar
a viagem na mesa, o presente
ganhado no último aniversário um projeto de livro
pro ano da copa
pro peixe na rede
perder a palavra
o infinitivo é um tempo púlpito


terça-feira, 16 de abril de 2013

aspiro ao grande labirinto

Abarrotam as pessoas
no caminho pretendido de manhã
ao fim da tarde as ruas
arrastadas pelo olhar se esquecem
e cansam o dia seguinte
meu corpo ocupa um espaço
eu alcanço se não penso
ele não chega às avenidas
que o céu abre na cabeça
aspiro ao grande labirinto
panorâmico, adoeço

quinta-feira, 11 de abril de 2013

parei de escrever assim como
há uns anos parei de cozinhar
digo faço o básico e sigo
na subsistência mas aquela
volúpia de temperos & texturas
esqueci

agora com chuchu e pouco
sal fiz uma sopa aguada
virão dias de pimentas
porcos marinados pratos
que demoram, agora eu lembro
do sabor
da água

terça-feira, 2 de abril de 2013

quantos mosquitos você já matou hoje

é fácil
matar o menor
1. se o vemos
2. se o alcançamos
3. se ele não nos alcança primeiro

é óbvio
não é o mesmo
matar um pernilongo
         um vírus
         um escorpião

o mesmo se aplica
a matar o maior
(repita a argumentação
pontos 1, 2 e 3)

um pai
um paquiderme
um planeta


domingo, 24 de março de 2013

educação sentimental

minha mãe acha que beijo é troca
de micróbios portanto não devíamos
a menos que casássemos com quem
do sexo oposto não nos desse
DSTs cornos talvez tapas no rosto

meu vô fratura o úmero
tenho que buscar
no google descubro
é o osso do braço
dele que herdei
obsessão com a morte
mas cai e não morre
e quando ocorre não liga
nem pra saber se está bem


depois do diário

i

amarram essas paredes com uma vontade bem firme
e olha só elas estão bambas

ii

a terapia dos cadernos acumula pó debaixo da cama
lá também vive o monstro que escrevia

iii

depois dos diários deixamos de enviar notícia
o mundo é grande, qualquer um encontra

iv

gaiola não canta

sexta-feira, 15 de março de 2013

abraço um cachorro entupido nas tubas oculares
ele morde as nervuras de uma neblina
que não pode ser avisada
meu cão-guia só tem dentes e deixa
para mim as patas de tropeço, amordaço
nos óculos quebrados os conceitos
as esperas se embaçam

abraço um afeto que me morde
com dentes afiados de filhote
afeto difuso antes dos dentes
o corpo sangra, coça, arde
sobretudo ele incomoda
a neblina que o envolve

abraço essa fumaça
ela vaza do meu abraço

*

hieroglifos nos papéis do asfalto são
uivos noturnos o perigo na floresta
amanhece e a névoa cobre o capim baixo
sobre o lago que não vemos
periga cair e se afogar
periga que um lobo ou um jaguar

os primatas que nasciam cegos
eram deixados para trás
no próprio azar

quinta-feira, 14 de março de 2013

o corpo, sozinho, buscava
o corpo, que, sozinho, fugia
do corpo, uma coluna de fumaça
erguia a vista e escondia
os corpos que, sozinhos, assistiam
à busca de um corpo, sozinho, que buscava
outro corpo, sozinho, que fugia

domingo, 3 de março de 2013

"não podes, sozinho, dinamitar"

a página do jornal na internet
informa
que todo dia cai um viaduto
embora informe
"viaduto caiu em"
acrescente a cidade que você imaginar
hoje foi em calcutá

troque viaduto por prédio
subtraia as razões da queda
que podem ser improbidade administrativa
ação de grupos extremistas
catástrofes naturais
ou qualquer outra expressão
entre as mais lindas da língua portuguesa

subtraia as histórias dos mortos
principalmente se continuam vivos
as fotos mostram os escombros
e o corpo dos bombeiros bem servido
de fardas e esforços pra ajudar a humanidade

subtraia a granola
que eu como com leite enquanto leio
a notícia de tragédia
já fomos melhores em tragédia
houve um tempo em que se arrancavam os olhos
e os corvos comiam teu fígado
até o fim da eternidade
se você ousasse trazer o fogo
pros outros

agora comemora
a ocupação militar em favelas
no rio de janeiro junto às pedras
mudas do viaduto de calcutá
um desconto no carro zero
não que eu seja saudosista
de um tempo mítico desconhecido
desde o começo dos tempos, dizem,
cai um viaduto por dia
no mundo

passo o café pensando nos indianos
e na ocupação militar das favelas
e tentando esquecer do carro
zero

passo o café pensando
em pôr bombas nas redações
dos grupos empresariais
que se entrincheiram nos maiores jornais
comerciais do país

pra que a notícia caia na boca
do povo:
todo dia cai um poderoso

sábado, 2 de março de 2013

tem um vulcão
no coração de cada criança
esse afeto que fere
os cãezinhos ao acarinhar
com força aperta
você é o meu amorzinho
e te quebro as patinhas
te machuco o focinho
quando entra em erupção
o coração das criancinhas
salve-se quem puder
pompeia foi fichinha

*

restava uma dúvida
da vida que iria levar
o talo verde na coluna crescendo
criando seiva saudável
até que eu chegasse nos 28 anos
o talo tornando-se enfim
marrom como as árvores grossas
a meio palmo de viverem
trezentos anos mais que a gente
a menos que caiam, trezentas
árvores tombaram em são paulo
na semana passada, e cortaram a luz de todas as casas
menos da minha

*

quando cresce
o coração endurece
a lava esfria
muito ar
no nosso tórax
já estamos aptos
a educar
as criancinhas

*

as árvores
lentamente
como podem
deixam são paulo

minhas raízes
antes aéreas
se fincam na terra
daqui ninguém me tira

uma nuvem
assombra a cidade

as crianças são frutos
que apodrecem

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

fotos de poetas

tem piada
o preto e branco
olho solene
se me fotografassem
também eu não diria
na cara granulada
o que escrevo

*

passava muito
demais
tempo
olhando a sylvia plath
nos anos cinquenta

*

se fôssemos músicos
em tv e internet
amy winehouse presa no tráfego
vinte fotógrafos crápulas na sua cola
ela só queria um cigarro
mamilo do jim morrison
se ainda tenho tempo
morrer intensamente e jovem
na poesia que bobagem

*

aprender a quebrar versos
vendo fotos de poetas
vinte e oito centavos cada uma
as rugas nas retinas
até dos suicidas
além da letra não diz
carne quebrada na imagem
mesmo solene a palavra
é que brilha

diário do herói


depois
de grandes aventuras
contra a conta corrente
nosso herói
ofega a queda-d'água
cairão as paredes
um enxame de pessoas
correrá atrás dele
sem a cinta-liga
da justiça
portanto nu
porém vestido
nosso herói
não é de nada
nem de ninguém

a liberdade
é uma capa vermelha
no jardim da infância
uma capa amarela
na adolescência
uma capa de látex
na idade madura

sua vontade fede
a liberdade

defrontado
com malvados vigaristas
a família, o governo, os turistas
nosso herói
corta mato densa selva
arranca as unhas roídas
pela fuga dos cipós
encontra uma macaca chita
e chora as pitangas
desequilíbrio galho em galho
nós, primatas sem rabo

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

as formas
dos nossos pés
cabem nos rostos
ergonômicas
de modo escolha
se pisado
a eternidade
pela bota
ou língua
recolhe áspera
cócegas
ou filho
agita ao céu
os beijos

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

tudo ao mesmo tempo agora

queria achar um jeito
de perder a cachola

sem dar tiro no peito
sem levar a viola

e desfazer as malas
as cartas marcadas
sem nem dizer adeus
chegar no ponto de ir embora

levar bilhete e o pranto
de quem fica e não chora

ficar no mesmo canto
me esquecendo mundo afora

pular de um prédio alto
voar como um macaco
sem noite e sem luz
de pés descalços

ser sempre um não ser
sem hora certa, sem demora

ter tudo e não ter
tudo ao mesmo tempo agora

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Ele diz com todas as palavras que o proletariado espera pelo menos três serviços dos intelectuais e, portanto, dos artistas: a) que desintegrem a ideologia burguesa (nos dois sentidos: cair fora e denunciar, criticar até reduzir a pó); b) que estudem, compreendam, expliquem e exponham artisticamente, sempre de maneira crítica, as forças que movem o mundo e c) que façam a teoria e a arte avançarem na direção dos seus interesses.

http://www.brasildefato.com.br/content/%E2%80%9Cintelectuais-t%C3%AAm-pavor-de-revolu%C3%A7%C3%A3o%E2%80%9D
Cuando piense en gente hecha mierda diariamente
debo pensar también en la velocidad que se acumula
en las puertas de las villas,
en los barcos piratas que los niños contruyen
con las hojas de sus cuadernos
de gramática

Cuando piense en cárcel y escriba cárcel hasta la saciedad,
no olvidarme de anotar en una esquina
manos sobre genitales,
reconocimiento,
confidencias.

(Roberto Bolaño)

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

quando imagina que invadem
naves alienígenas o corpo preparado com carinho
a mãe passou talquinho
a vida pôs as fraldas
caminho sem sinais de perda ou fim
não se anuncia o fim tão cedo
dias e noites sucedem
sem que nada cheire estranho
ameaça raios que atinja
não espera que aconteça
mate a mãe e os vizinhos
se o planeta cinde em dois
só pode ser coisa da sua cabeça
o coração ficou sambando na avenida e morde
o dia quando provocado se mistura
entre os cachorros uma ideia bebeu muito
medo igual cadela as costas curvas o corpo
é o mais cruel dos berçários um bloco
de samba sobra só o coração

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Um dente terrível se anuncia na sala
sozinho não morde nada. Tem dentes o dente
uma boca afiada corta a pele
borrachuda dos lábios perto, o dente cobre
cárie toda a cidade se curva os cachorros
do mato invadem berçários, mordida
de espera aguarda os pedaços, os médicos
dão de ração às bocas os filhos - vivos
quem foge
quem morde

Meninas, vão para os seus quartos
A mãe ciosa prepara os doces
Viemos aqui em busca da carne
Protege as filhas que nem cria
Guardadas pra que não sejam mordidas
Tremem no quarto abraçadas, silêncio
Meu marido vai chegar a qualquer momento
O espartilho expande ventre inteiro
O dente - canino - rasga-a ao meio


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Segundo a observação de H. von Stein, ao ouvir a palavra "natureza", o homem dos séculos XVII e XVIII pensa imediatamente no firmamento; o do século XIX pensa em uma paisagem.

(Raízes do Brasil)

*

o céu é que serve
de horizonte quando ao seu lado
os lobos ainda ameaçam
depois domesticada a gente passa
a não ver mais estrelas

*

a constelação de ema
é comida pelo escorpião
lei do antropófago europeu:
só interessa o que é meu

*

um europeu pergunta ao outro
porque deus não fez nos céus
perfeitas formas e tecidos
com as estrelas ao acaso
assim dispostas até parece
que deus não existe

o outro europeu responde
que se deus assim dispôs
é porque tinha um bom motivo

*

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

quem diz macacos
me mordam
deve atentar que essa frase
de infância chama os espíritos
dos macacos, que, por sua vez,
chamam os macacos vivos
o butantã, lar do famoso serpentário,
corre o risco de ser invadido
por um exército de macacos
doidos pra morder
o atrevido

ii

tem os dentes
fossilizados
e tem aqueles
desfeitos erosão
pela memória

cuidado

iii

tem os dentes
da caveira
e tem aqueles
sorrindo na foto
do meu pai

são os mesmos

dos dentes se aprende
(que é que eu aprendo?)
mastigo um pedaço
de queijo no almoço

tudo o que eu mastigo está morto

iv

dos dentes se aprende
quem caça sem dúvida
sobrevivência garantida
pelo bote da mandíbula

meus avós guardam na pia
numa caneca quebrada
fazem poupança com a aposentadoria
mas já não esperam mais nada

v

nestes tempos de epidemia
não conte com a antropofagia

nestes tempos de contaminação
não confie só na digestão

nestes tempos de sobreaviso
não morda nem seu amigo

vi

nestes tempos autoimunes
os galhos tremem
os micos têm medo
e fome, mas só ficam assistindo

o bairro espera
o novo ataque
treme à espreita
das suas feras

são outros dentes que mordem
o interior das bochechas

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

o dia que eu for escritor

minha mãe vai contar
às amigas o marcos
ganhou prêmios elas vão dizer
cejuraquelegal
deus me livre do dia em que eu ganhe prêmios
avolumando-se as consumidoras na garganta dos livreiros
e o mundo igual do mesmo jeito
me perguntam da arte da fome do brasil e eu vou dizer
bobagens publicadas minha mãe vai contar
às amigas o marcos saiu
até no jornal
deus me livre de um dia sair no jornal

ii

vimos
por meio desta
comunicar-lhe apesar
das evidentes qualidades literárias
decidimos não publicar seu livro
boa sorte
boa noite
seu livro foi selecionado
parabéns
entre milhares de outros
e agora queremos
dar ao mundo essa obra
de extremo bom gosto
você tem interesse em publicar conosco?

iii

tudo que eu escrevo
é poema, menos isto
trata-se de reza
a céu aberto
eu e as evangélicas
gostamos de rezar
bem alto na porta

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

um encontro estala atrás
do poste de luz da esquina
te disse que está lá atrás os guardas
o levam dali para a jaula o encontro
era um javali
órfão porque no escuro
da metrópole

ii

um naco de vidro que prende na garganta
um pote de abacate que caiu e se quebrou
a língua alcança os dedos e neles tinha vidro
e tinha o abacate amassado com açúcar
agora sinto sangue descendo pelo esôfago
agora desacomoda e o vidro ainda está ali

iii

o encontro também
pode ser?

uma praia aonde eu não vou
o cós das calças que eu não sei

uma queda bem distante
a intransigência de alguém

os futuros carcomidos
pelo vento do passado

o passado afogado
na enxurrada do futuro

maduro maduro
monturo

iv

hoje
exploraremos
o encontro
do rio negro
consigo mesmo
as águas
as algas
amalgamam
a história
do curso
que deságua
não seguiremos
nós parados
neste exato
corrente
momento

v

prometo pensar o imediato
porque me perco se distraio
perseguindo umas palavras
que não têm lastro então eu penso
nestes dentes todos juntos

o encontro seria
só meu se eu fosse
um destes dentes

eu nem ia ligar
eu, enquanto dente,
encontrado que estaria
no desgaste que mastiga

vi

esta
é a história
de quando a história não sabe
de si

sábado, 5 de janeiro de 2013

novo

às vezes
o ano
cai de repente
outras vezes
ele entra
suave
este ano
parece
ainda está na barriga
de dezembro

ii

ingrato
depois de tudo
em 2012
vai dizer que não quer
2013
que pose

iii

às vezes
quem entra
no ano é você
outras vezes nem
isso

iv

variações
monótonas
precárias
sobre um mesmo tema
2011
2012
2013

v

resoluções de ano novo
desistir de ser poeta
entrar pro clube de remo
comer menos
(não necessariamente
nessa ordem)

vi

resoluções para 2013
escrever algo que preste
reinventar a rima fácil
jogá-la pelo ralo
escrever o imprestável

vii

segunda lista
de resoluções

querida mãe
persistir na análise
let's start a magazine

viii

pendurar uma placa
no pescoço na porta
contenha-me

viiiiiiiiiii